sexta-feira, 21 de março de 2008

ATLÂNTIDA

FERREIRA PINTO E A ATLANTIDA
Exposição " TEMPO NO TEMPO" - 2000


Crucificação da Atlântida



Açores, arquipélago atlântico e fragmento reminescente da lendária Atlântida, é o lar de Ferreira Pinto, pintor de sonhos, de mitos e lendas, poeta das verdades transcendentais, filósofo da harmonia e das cores.
Através de Tempo no tempo, a sua arte transporta-nos numa viagem de luz e cor, que começa no mundo primordial, passa pela Leveza harmoniosa da natureza, e culmina no deslumbramento da Vida.
Algumas das suas telas representam o Caos, esse estado desorganizado originado do tempo, a partir do qual teogónicos deuses, ébrios de alegria criadora, moldaram o mundo. Juntaram no mesmo espaço-tempo, místicas nuvens, restos de mistérios, o fogo primitivo, e as sobras de sonhos antigos.
Na paleta de Ferreira Pinto, as tintas, tal como a matéria da Criação, são bafejadas pelo Sopro Essencial, preenchem os celestes espaços intersticiais insinuando-se sobre a matéria, e geram a Vida sob a forma de uma simples gota de água, também as tintas se misturam e interpenetram num acto fecundo. Deslizam, então, de um lado para o outro na rugosidade áspera das telas, levadas pela delicadeza do pincel, e fazem surgir no encanto do seu rasto, o céu, a terra e o ar, o sol e a lua, a noite e o dia, os vales e as montanhas, as plantas e os animais, os lagos, as ilhas e os continentes, os rios e os mares.
O pintor, num arrebatamento criador, faz renascer um continente mitológico originário dos espaços infindos do Caos. É a Atlântida, o continente perdido, terra de homens e deuses, reino da harmonia e do sonho, que se mantém escondido desde tempos primitivos nas águas profundas do Mar Atlântico mas que se perpetuou para sempre na memória dos povos.
Ferreira Pinto, vivente nestes espaços atlânticos, navegante nas águas, ora calmas, ora revoltas, das lendas e do sonho, faz-nos caminhar, através da sua pintura, pelas esquecidas veredas Atlantes e é, numa verdadeira explosão de ritmo e de cor, que ele nos mostra a Origem do continente, nos sensibiliza com a Leveza da Dança do Sol, e nos faz sofrer na Crucificação da Atlântida.
Reinaldo Ribeiro
Lisboa, 30 Setembro 99

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