domingo, 17 de janeiro de 2010

FERREIRA PINTO NO CENTRO CULTURAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTA DELGADA

TEMPO NO TEMPO

"TRANSCENDENDO O ESPAÇO E O TEMPO"



A locução do Dr. Luis Rocha sobre a pintura de Ferreira Pinto, por ocasião da inauguração da exposição "TEMPO NO TEMPO - Transcendendo o Espaço e o Tempo"


Num Serão de amigos, há cerca de um mês, cometi uma imprudência que me saiu cara: o meu amigo Ferreira Pinto anunciou que ia fazer uma exposição de pintura - mais uma - e disse que procurava alguém que se dispusesse a escrever um texto para o catálogo e alguém que fizesse a apresentação da exposição. Ele não se dirigiu a ninguém em concreto nem precisou de o fazer, tal foi a persuasão das suas palavras que logo ali dois dos circunstantes se apresentaram voluntariamente para colaborar com o amigo. O catálogo, esse aí está pela mão de Teresa Tomé - e muito bem! É uma pessoa de cultura, de formação em História, realizadora de programas de arte lato sensu, enfim, está no seu meio como peixe na água. Quanto a mim, ainda estou por saber o que é que me deu naquele instante para dar um passo em frente e dizer: "António, conta comigo!". Não sou conhecedor de pintura, de artista apenas tenho o palco como meio de expressão; foi na verdade uma imprudência porque logo a seguir fiquei aflito: "O que é que eu vou dizer?". Mas longe de mim romper o compromisso. E depois, nada é por acaso (o acaso existe ... no dicionário), se eu o havia assumido é porque alguma razão haveria e a minha primeira tarefa seria descobri-la. E logo aí fiquei mais animado. Posta de parte a apreciação técnica, esta sim, completamente fora de questão, e mais bem entregue a muitos dos presentes, só me podia ser pedido que fizesse a leitura da mensagem contida nas obras agora em exposição. Sim, era isso que o António pretendia quando naquele Serão disse que gostava que alguém ... mas ao mesmo tempo olhou para mim de forma incisiva. Faço-o com muito gosto, mas não deixa de ser uma temeridade pois mesmo assim perante tão insigne audiência não é da forma que me sinto mais à-vontade.

Quem conhece o Ferreira Pinto, sabe que ele é homem de assumir as suas convicções sem medos nem eufemismos. Há pessoas que vieram a este mundo para comunicar pela palavra, outros pela escrita, o Ferreira Pinto veio para comunicar pela pintura. E é pela pintura que ele se assume como um ser intemporal algures numa linha de tempo.

Bem, é suposto nestas ocasiões apresentar o autor, e habitualmente costumamos ouvir os apresentadores dizerem que o autor é tão conhecido que dispensa apresentações. É o caso, mas mesmo assim, nesta matéria não pretendo ser muito parco em palavras. Não é relevante fazer aqui a história de vida do autor, mas é pelo menos importante que se faça o enquadramento da sua obra.

António Ferreira Pinto passou 26 anos em Angola e esse tempo marcou muito a sua pintura - as cores fortes, as cores quentes, a imensidade de cores diferentes, os contrastes bem marcados, os cheiros (sim a pintura tem cheiro) - tudo sensações que só quem passou por África consegue percepcionar em pleno. Foi um período em que ele passou à tela de forma muito vincada os 4 elementos da natureza - terra, fogo, água e ar. Para quem não teve oportunidade de ver algumas das suas exposições desta fase da sua pintura, aconselho a visitar a galeria na Internet onde as suas obras estão disponíveis para consulta.

Desde 1975 Ferreira Pinto trocou África pela ilha de São Miguel. Aqui se radicou e aqui se dá a sua expansão de consciência. Começa a introduzir o elemento ilha - reduz a diversidade de cores, aumenta as variantes de verde, mas depressa vê a ilha para lá do tempo. A ilha é o seu ancoradouro, ponto de partida para outras linhas de tempo num universo que ele procura agora compreender. E é essa reflexão que ele sente uma enorme vontade de compartilhar com todos nós. Sente-se como que imbuído por uma energia que ele projecta para a tela através da qual nos transmite a sua visão do cosmos, da vida para além do nosso tempo. Donde vimos? Para onde vamos? Que estamos aqui a fazer? O autor questiona-se e encontra as respostas dentro de si mesmo, no mais profundo do seu íntimo onde afinal tudo começa e acaba. É isso que ele nos pretende transmitir à saciedade numa profusão de sucessivas telas. O que é o Tempo? Será que ele chegou à compreensão do Tempo? Penso que sim. Segundo Ferreira Pinto nós somos um grão de areia num Tempo no Tempo. Difícil este conceito, sem dúvida, mas basta percebermos que o tempo é uma ilusão e que só existe no nosso espaço e o nosso espaço é uma realidade que só existe porque se manifesta num tempo. Para tentarmos compreender um pouco o que é a Vida (com V) temos de tentar transcender o espaço e o tempo. Temos de sair desta realidade virtual que é a vida na Terra, que é esta experiência humana fabulosa, esta aventura no espaço sideral simultaneamente neste Tempo no Tempo. A pintura de Ferreira Pinto mostra-nos como as diferentes realidades coexistem no Tempo, como elas se doam para que delas emirjam novas realidades, em novas linhas de tempo todas elas no Tempo que é tão-somente o Aqui e Agora. É por isso que ele inicia uma série de galerias todas subordinadas ao tema genérico "Tempo no Tempo", atribuindo depois a cada uma, uma temática mais agregadora; no caso presente descreve-a como "Transcendendo o Espaço e o Tempo" - uma obra composta por 21 quadros, na maioria inéditos. Não deixa de ser curioso que um homem das ciências exactas, engenheiro de formação, seja possuidor de uma altíssima sensibilidade capaz de trabalhar o abstracto com mestria - se calhar é porque a especialidade dele é telecomunicações e na realidade ele mais não faz do que comunicar à distância com a sua realidade superior - o seu EU SUPERIOR, o seu EU SOU esotérico que está presente em muitos dos seus quadros, umas vezes bem visível outras vezes de forma mais subtil.

A obra desta fase, eu diria espiritual, obrigou a uma reorganização da sua paleta que agora se apresenta fundamentalmente em tons de dourado, rosa, prata e branco, de forma a poder transmitir-nos a Luz que irradia do universo, a Luz que é fonte da Vida, a Luz que nos sustém na linha de tempo em que nos encontramos e que nos está a conduzir para um outro Tempo. Dos quatro elementos que figuravam na primeira fase, o autor passa para o 5º elemento - o éter. Todas as formas expressão/pensamento ficam agora gravadas para a eternidade, impregnadas no éter.

Toda a sua obra aqui exposta tem uma mensagem que a trespassa de forma muito vincada e que eu sei que é muito cara ao autor ? Serenidade. Todos temos a percepção de que algo está a mudar no planeta. Mesmo aqueles pouco atreitos à espiritualidade pressentem no mais íntimo do seu ser que algo está latente e que em breve viveremos uma nova realidade - um novo Tempo. Cientificamente é já admitido que a Terra está a efectuar uma trajectória planetária que conduzirá em breve a alterações energéticas decorrentes de campos magnéticos que ela atravessará (ou mesmo já começou a atravessar) e que terão consequências na vida do planeta. Numa visão espiritual, sabemos que o planeta está numa fase de ascensão, ou seja, está tão-somente a mudar a sua vibração de 3ª para 4ª dimensão - a isto se chama evolução ou se quisermos, ascensão. Qualquer que seja a abordagem, ela implica alterações, ajustamentos - é um caminho inexorável.

O fio condutor da obra agora exposta é a ascensão do planeta. Mas o autor rejeita de forma consciente os arautos da desgraça e os falsos profetas. Vejam como a sua obra irradia calma e tranquilidade. Em alguns quadros vemos o caos, sim, mas mesmo nesses casos a Luz está sempre numa posição cimeira, triunfadora, qual farol que nos guia no meio da tempestade; o caos contém ele próprio a semente do renascimento, qual Fénix que renasce das cinzas. O caos atrevo-me a dizer que será tanto mais caótico, passe o pleonasmo, quanto mais assim o visualizarmos e o impregnarmos nas nossas células. Esta desmistificação pretende o Ferreira Pinto transmiti-la através da sua pintura.

Em Ferreira Pinto os mundos nascem e morrem numa trajectória de experienciamento que a vida, seja qual for a sua forma, física ou etérea, realiza. Cada mundo cria a sua realidade, nem certa nem errada, é a sua. Logo no primeiro quadro percebemos que há múltiplos caminhos, todos eles são "um" caminho, todos eles são "o" caminho, o universo é paciente, não tem pressa, a eternidade é mais um Tempo no Tempo de que nos fala o autor; assim o despertar das consciências se faz caminhando, cada um a seu ritmo, cada um a seu tempo, sem julgamento, apenas em pleno respeito pelo outro.

Esta exposição coloca à nossa frente um novo paradigma - a bonança. A humanidade está desestabilizada, confusa. Temos obrigação de pacificá-la. O Ferreira Pinto sente isso mais que ninguém, e por isso aqui está a sua obra a testemunhá-lo.

ESTÁ TUDO BEM!

Bem-hajas António!
Luís Rocha

Ponta Delgada, 14 de Janeiro de 2010

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